Licio Gomez em Xaplex traz uma nova maneira de enxergar o Trap no Brasil

Existem termos que são característicos de cada região do Brasil. Gírias, regionalismos, entonações…temos uma riqueza linguística gigante, se comparada a outros países, principalmente no que diz respeito às variações do mesmo idioma, no mesmo solo. Pernambuco, assim como outros estados do Nordeste, tem uma linguagem local bastante singular e que influencia indiretamente outras regiões com a cultura.

A gíria pernambucana, “Xaplex” significa estar “chapado” (entorpecido) ou mesmo o ato de “chapar”, e mesmo lembrando de longe alguma palavra de origem inglesa, não tem nenhuma relação com isso. É simplesmente um dos verbetes “patromônios linguísticos” da terra dos altos coqueiros.

E através do Xaplex, o trapper pernambucano Licio Gomez, vem com uma proposta estética de escrita que geralmente não vemos no Trap nacional.

Usando uma técnica conhecida no Rap como Storytelling, que é um método que o autor escreve suas rimas de forma que contem uma estória linear e que traduzindo livremente seria “Contador de Estórias”, Xaplex inova em fazer isso num gênero comumente conhecido por ter letras mais sintéticas em sua estrutura de escrita, sem muita preocupação na elaboração do desfecho nas estórias contidas nelas. É mais comum deixar que o ouvinte junte as frases e ordene essa narrativa em sua imaginação. O que Licio apresenta é uma estória curta, porém envolvente, de um “cara”(outra gíria comum em Pernambuco para designar alguém do gênero masculino de identidade desconhecida), que sai para curtir a noite num motel, com duas mulheres, também desconhecidas, numa farra regada à muita bebida, drogas…e os desdobramentos disso. E se engana quem pensa que a estória tem um final feliz. Diferente do que ouvimos no Trap, onde toda ostentação é o ápice, em Xaplex temos o anti-herói, a falta de sorte típica do escritor maldoso com sua personagem que não tem uma conclusão comumente esperada, deixando margem para um final reticente. Dessa forma, o ouvinte é levado pelos braços para acompanhar essa mini saga casual do anti-herói.

Para climatizar essa trama, Thiago Honorato (A Orquestra Imaginária), produziu um beat (onde também assina a mixagem e a masterização) que traz em si uma essência ora melancólica ora hipnótica, que transita entre o choque e a calmaria, para pontuar momentos da letra. Licio assina a direção musical, trazendo assim ideias para facilitar o trabalho de Honorato, provando que a dupla tem uma simbiose bem sucedida na maneira de produzir. O clipe da música foi roteirizado, filmado, dirigido e editado por Licio Gomez. Por conta da pandemia, em todo o clipe o artista usou as dependências de casa como locação, se desafiando para conseguir traduzir visualmente toda a angústia da persona do protagonista fictício da faixa. Xaplex poderia ser traduzido como um “Conto Psico Trap”, ao trazer uma música que climatiza o ouvinte numa imersão. Talvez será assim que bardos de um futuro próximo contarão suas estórias.

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