Artista: RT Mallone
Álbum: Vendedor de Sonhos
Fala rapaziada, chegamos com a primeira resenha do mês de Abril, desta vez sobre a mixtape “Vendedor de Sonhos” do mineiro RT Mallone. Um dos maiores destaques de Juiz de Fora, o mc, que é integrante do coletivo WAV, de onde fazem parte Everton BeatMaker, Thainá Kriya e Marte Mc, todos da mesma cidade, também integra a gravadora Artefato de SP desde 2016. Ele já está na correria pelo desde 2012, porém este é seu primeiro trampo sólido. Até aqui foram inúmeros singles e feats com certas participações importantes como, por exemplo, aparições no disco “Oceano” de 2016 do Nego E, entre outras, como no disco “Senzala” da Mc Xuxu, lançado este ano.
Vamos aos trabalhos: a mixtape tem uma vibe reflexiva e, apesar de cada faixa ser produzida por um beatmaker diferente, os instrumentais possuem extrema coesão sonora, o que deixa o álbum com uma cara própria que dialoga muito bem do início ao fim. As letras sempre compromissadas com a realidade do próprio rapper espelham o cotidiano deste país vivenciado e analisado por um jovem negro. A identidade visual do trampo também combinou muito com o estilo das músicas, a escolha por uma estética ‘clean’ passa todas as informações das músicas com facilidade e adiciona imagens de referências de filmes, séries, celebridades da música, desenhos, etc… isso ajuda a introduzir a temática chave de cada faixa.
É difícil escolher um beat que tenha se destacado, praticamente todos estão no mesmo nível, mas a faixa 5 “Brilho”, produzida por Eddu Chaves veio com um instrumental que auxiliou o rapper a aplicar uma levada mais acelerada e swingada em alguns versos, o que diferenciou essa track das demais do disco. A faixa 6 deve ser lembrada pela inovação e performance, RT Mallone, neste momento, abre o espaço para outro artista, Munir, levar a track inteira sozinho como interlúdio, um acapella de extremo bom gosto, tratando da exploração no mercado de trabalho e intolerância racial: interpretação e letra impecáveis deram um charme à mixtape e fizeram a ponte perfeita para a segunda metade da obra. Logo em seguida vem a faixa “Mudança”, uma das três que possuem feats, nela surge o verso destaque dentre as participações que aparecem ao longo da mixtape que, pra mim, foi o de Jullyo Mallone que soltou a voz com identidade e deslizou no beat com uma ideia forte.
Chegamos, na minha opinião, ao maior destaque do álbum: a faixa 8, “Orgulho”, foi produzida por Everton Beatmaker que largou um boombap calmo e classudo no qual RT chegou com uma letra que qualquer mc sério vai sentir no peito. O artista trata da correria que ele vem fazendo, de como a cena atual tem conceitos absolutamente deturpados e de como o racismo é latente na nossa sociedade: “Se eu sou a favor das cotas!? Meu bisavô foi escravisa… eu tenho mesmo que te dar essa resposta!?” / “Lembra quando faltou arroz, feijão, respeito pra nutrir o amor no armário que tava sempre escasso? Danos mentais de fato, hoje eu sou cleptomaníaco, deviam agradecer que eu to roubando só espaço” transcrevo estas, mas todas as frases da música foram pesadas.
O trabalho se encerra com um remix pra lá de ousado, uma releitura da música “O tempo passou” de Sant e Marechal. O instrumental foi liberado para download junto da mixtape “O que separa os homens dos meninos” do rapper Sant lançada em 2015, o que resultou em alguns remixes dela espalhados na internet. RT também teve essa visão e, em parceria com J.Vito, realizou uma nova letra. Ele ainda conseguiu o aval do mc carioca para lançar a faixa e agora ela está entre os destaques do disco, o mineiro não fez feio e manteve o nível alto nos versos.
Como de costume, aquele muito obrigado pela sua atenção, o Polifonia Periférica agradece a disponibilidade de seu tempo e logo menos voltamos com mais resenhas e indicações.
Resenha por Gustavo Silveira aka Caliban, Mosca Produções, Polifonia Periférica.