Festa #GeraBuceta reúne MC’s e poetas mulheres no Centro do Recife

Quem gera são elas. Conquistam e ocupam cada vez mais espaços. As ferramentas são muitas. Seja na lida diária ou em cima dos palcos (quando se pode contar com um), vozes femininas e feministas berram por direitos, exigem respeito, subvertem e rompem com a estrutura patriarcal. Próxima quinta-feira (08), Dia Internacional da Mulher, algumas dessas falas se encontram na Galeria Arvoredo, na Boa Vista, para mandar umas rimas, recitar poesia e soltar aquele som para balançar as ‘rabas’ que se movimentam com autonomia. É dia da buceta gerar no rap.

O evento é assinado pela Aqualtune , um coletivo independente criado em 2017 para estimular o protagonismo da mulher negra na produção cultural e fortalecer artistas da periferias, especialmente mulheres. A programação conta com grupos da cena local, além da participação especial da MC carioca Taz Mureb. 8 0 8 crew, Femigang, Negrita MC e as Dj Brisa e Mayara Cajueiro compõem a line mais feminista da cidade em uma data que marca a luta por equidade de gênero. Haverá ainda feira com a exposição de trabalhos de artistas visuais pernambucana.

O discurso potente de parte da atual safra da poesia pernambucana, fortemente influenciada pelas pautas feministas e do movimento negro, também assinala o encontro por meio da participação das poetas dos coletivos Recital Boca No Trombone e SLAM DAS MINAS PE. O primeiro atua no Alto do Pereirinha, Zona Norte da cidade, onde promove batalhas semanalmente. Já o Slam das Minas, reúne exclusivamente mulheres, promovendo um espaço de fala para as minas e a ocupação dos espaços públicos da cidade com arte e cultura.

O mês de março representa um marco na luta por igualdade de gênero em todo o mundo. Nesse contexto, a música produzida por MCs mulheres serve de ferramenta para o fortalecimento de pautas importantes para o movimento feminista. O combate ao racismo, à violência contra a mulher e outras demandas de cunho social são temas que perpassam a produção dos grupos e artistas do movimento Hip Hop que integram a line. As adversidades, a falta de incentivo e o machismo não são suficientes para impedir cada artista de gerar o melhor que pode dentro de suas especificidades, o que resulta num trabalho marcado por vivências periféricas e autobiográfico.

NOTA
Desde que a programação da festa #GeraBuceta foi anunciada, alguns homens se esforçam em deslegitimar o evento. Mensagens com insultos e até ameaças trouxeram à tona o peso do patriarcado na vida das mulheres. O tom misógino, puritano, zombador e mesmo desrespeitoso nos mostra que ainda precisamos lutar muito para conseguirmos exercer a autonomia sobre os nossos corpos.  Não é desejo da Aqualtune, uma produtora independente que visa contribuir para o fortalecimento de artistas negros, especialmente mulheres, incitar o ódio nem mudar um pensamento que nos rege apenas com uma festa – existe uma luta sendo construída muito antes de nós. Entendemos que muitos homens, e até algumas mulheres, reproduzem um comportamento comum numa sociedade misógina e machista. Mas não podíamos deixar de responder a tantos insultos e aproveitamos o momento para ampliar a discussão sobre o empoderamento feminino. Quem frequenta batalhas de recital de poesia e encontros feministas na cidade, já cansou de ouvir o grito “GERABUCETA”. Vivemos um momento em que as mulheres se organizam e movem a sociedade. Berram por autonomia. É uma geração que desconstrói padrões, reivindica direitos, pauta discussões e busca novas formas de existir. É a geração BUCETA, sim, mas pode chamar de “XOTA” ou “XANA”, “PEPECA”… É a geração que não tolera mais figurar em clipe de MC apenas como objeto. Que bate mesmo a raba no chão, mas exige respeito, que luta para ser o que quiser e onde quiser. Não estamos pedindo permissão. Não precisamos de permissão.
Quem apoia a atuação das minas no Hip Hop e o evento #GERABUCETA, pode enviar um vídeo de até 13 segundos pelo zap (81)99566.6553 com uma mensagem que reverencie a autonomia feminina.

SERVIÇO

GeraBuceta
Quinta-feira (8 ), 21h
Mc Negrita, FemiGang, Taz Mureb (RJ), 808 Crew, DJ Brisa e DJ Mayara Cajueiro
INGRESSOS: R$ 10
Vendas na bilheteria no dia do evento ou online: https://www.sympla.com.br/gera-buceta__251626

Evento: https://www.facebook.com/events/1994540037242062/

*Proibida a entrada de menores de 18 anos;

*Transfree (com nome na lista);

Galeria Arvoredo – O Arvoredo foi criado em 2015 como o intuito de fortalecer a cena underground do Recife e Olinda. Com a cena Hip-Hop em plena ascensão em vários lugares do mundo, Recife e Região Metropolitana ainda sentiam discriminação com a música Rap e o modo de ser e vestir desse público jovem e sem muito poder aquisitivo. Foi daí que a criação de um espaço que dialogasse com essa juventude, fomentando um novo ciclo, onde as necessidades de lazer, moda e produção audiovisual se aliassem ao baixo custo e a oportunidade para que novos artistas terem visibilidade.

Selmo Reimberg, também conhecido como Anêmico, começou no movimento underground em São Paulo, há 20 anos, ainda na pichação. Quando se mudou para Recife, seguiu carreira como grafiteiro e MC por meio do coletivo Êxito D`Rua. Hoje, atua na cena como produtor cultural e mantenedor do espaço que reúne artistas de variados nichos e diferentes modalidades. Por meio da Galeria Arvoredo tem fomentado atividades de música, performances e shows nas sextas e sábados das 20h às 5h, sempre a preços populares. Nas quintas-feiras, o espaço também recebe um brechó que reúne marcas de empreendedoras locais.

Não é somente o Rap que é bem vindo no Arvoredo. Recentemente, com a mudança do espaço para o Centro do Recife, o fluxo do público e de artistas no local transformou o subsolo do Edifício Walfrido Antunes, na rua Gervásio Pires,  em uma galeria multicultural. É possível ouvir Brega, Funk, Trap, Trance, Reggae e Rap no mesmo dia ou, se o evento for de um segmento ou público específico, diversos artistas da cena local e nacional. Atualmente, a permanência da galeria no local ainda encontra dificuldades burocráticas, algumas ligadas ao preconceito em relação a movimentos artísticos oriundos da periferia.

Galeria Arvoredo – Rua Gervásio Pires, 436, Boa Vista – Subsolo do Edf. Walfrido Antunes.

Horário de Funcionamento: quintas, das 19h às 0h, sextas e sábados de 20h às 5h. (Pode estar aberta a visitação durante o dia)

Entrada: muitas atividades sem custo mas os shows variam entre R$ 5 e R$ 30

Aceita cartão: Sim
“Essa não será mais uma festa do caralho”

” A geração que não leva mais o caralho na boca, mas a bueta no coração”

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