De São Paulo para a Europa: a trajetória urgente de uma das bandas mais potentes do punk atual. Letras ácidas, atitude DIY e um olhar feminista: a nova geração do punk nacional.
Formada em 2021 em pleno auge da pandemia na metrópole de São Paulo, a banda Refugiadas rapidamente deixou de ser apenas mais um projeto de amigas para se afirmar como uma das vozes mais viscerais do punk rock atual no Brasil. Integrado por Angelita Martin (vocal), Tati Bellare (guitarra), Kéu (baixo) e Lary Durante (bateria), o quarteto vem juntando pressão sonora e crítica social em riffs diretos e letras que não poupam alvos como machismo, desigualdade estrutural, abandono paternal e genocídio de povos indígenas — um espelho agressivo das contradições brasileiras do século XXI.
Desde o início, suas referências musicais apontam para a simplicidade urgente do punk 77 e para bandas femininas icônicas como Bikini Kill, L7, Mercenárias e Bulimia — esta última parte de um legado de guitarras afiadas lideradas por mulheres. Essa genealogia se traduz em uma sonoridade crua e incisiva, construindo um discurso que não só revisita a tradição do punk global como o conecta com problemáticas locais e urgentes.
O nome Refugiadas não é casual. Ele evoca imagens de exclusão forçada — sejam pessoas deslocadas por conflitos ou indivíduos marginalizados por não se conformarem às expectativas sociais. Essa metáfora política aparece claramente nas letras do primeiro álbum homônimo, lançado em 2023 e produzido por Daniel Zapata, com faixas curtas que funcionam como verdadeiras detonadas suturadas pela crítica ao neoliberalismo, à exploração e ao patriarcado.
Ao contrário de muitos projetos de garagem que jamais saem do circuito local, Refugiadas ampliou seus horizontes artísticos em tempo recorde. Em 2025, o grupo lançou o segundo álbum, “À quem serve a ignorância?”, reforçando seu compromisso com letras contundentes e uma estética DIY que dialoga com espaços e coletivos do underground. Ainda no início de 2025, elas fizeram sua primeira turnê internacional, passando por cidades na Alemanha, França, Bélgica e Holanda, consolidando uma presença que extrapola fronteiras — algo raro e nada trivial para uma banda independente do punk brasileiro.
No cenário nacional, as Refugiadas já compartilhou palco com nomes consagrados do punk e do hardcore, participando de festivais como o Festival Mulheres n@ Punk ao lado de veteranas como Mercenárias e Ratas Rabiosas, reforçando a conexão com a tradição do punk feminino no Brasil.
Musicalmente, suas performances são marcadas por energia visceral e presença de palco intensa, com letras em português que dialogam diretamente com um público que busca autenticidade e identificação — não apenas ruído, mas afirmação de identidade, classe e gênero. Críticos e fãs da cena independente já os apontam como um dos nomes mais relevantes da nova geração do punk paulistano, combinando atitude DIY, crítica social e participação ativa em eventos que promovem o protagonismo feminino na música pesada.
Refugiadas não é apenas uma banda em ascensão; é um fenômeno cultural que espelha tensões sociais contemporâneas, fazendo com que o ruído rápido e direto do punk continue sendo uma ferramenta de protesto relevante no Brasil e além.
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