RESENHA: “Poetisas no topo 2” – Stefanie, Cynthia Luz, Winnit, Ebony, Lourena e Kmila CDD

Por Gustavo Silveira, a.k.a. Caliban
 
Fala galera, chegamos a mais um fim de ano intenso, repleto de notícias, polêmicas e lançamentos. Decidimos criteriosamente que a última análise/divulgação do ano é delas: Poetisas no topo 2 – é a cypher da vez!
 
Com muito estilo e irreverência esse timaço quebrou tudo em mais um lançamento consistente da Pineapple Supply.
 
Quem abre o som é Stefanie com sua voz marcante e uma carcaça de mc que tem muita história pra contar nesse rap nacional.  Outrora esteve em parcerias com Kamau, Rashid, Rincon Sapiência, Emicida, Rick, Parteum, em mais de uma década de correrias pela cultura. Chego com estilo, da forma como se fazia no tempo dos clássicos: técnica, originalidade, consciência, referências e propriedade nos versos. A mc aplicou um flow muito confortável e apresentou questionamentos críticos sobre abandono paterno, muito frequente no país e, inclusive, dentro do hip hop, deu alfinetadas na forma como anda a cena e, principalmente, lamentou sobre a fase triste pela qual o país passa, relembrando o momento em que o, até então, candidato à presidência, havia homenageado um torturador e depois dessa barbárie conseguiu efetivar sua candidatura. Por outro lado, exaltou seus próprios heróis, como a aclamada escritora Conceição Evaristo, entre outros grandes pensadores e propositores de cultura que você precisa conferir na letra, afinal, nosso papel aqui não é o de dar spoiler, rs.

Na sequência aparece Cynthia Luz com sua voz marcante e seu estilo mais que registrado. Uma letra menos direta e menos política, porém bastante filosófica e poética, a mc propõe um lugar de conforto e auto-estima para que as ouvintes se sintam abraçadas por suas melodias e sua empatia.
 
O beat vira e, num formato mais atual, é a vez de Winnit, que chega acelerada e certeira nas palavras, voltando à ideia mais direta ela ataca o machismo e confronta o patriarcado nacional que, em suas próprias palavras, “quer defender o ventre e não o corpo violado”.

Numa pegada muito próxima quem toma o protagonismo em seguida é Ebony, encaixando perfeitamente no estilo de rimas velozes da companheira, um corte seco no vídeo faz a ligação das duas poetisas. Ebony fala sobre o empoderamento de ser uma mulher preta auto-suficiente cheia de auto-estima que conquista suas coisas na garra e merece o sucesso por seu esforço, foco e talento.
 
Laurena é a próxima, ela vem com um flow melódico, emocionante, de muito protesto, colocando todo o sentimento nas palavras com muita referência de sua vivência enquanto mulher preta, dando um papo reto sobre a vida, a perspectiva de mudança nos seres que lutam pelo certo colocando muita intensidade na voz e, na minha opinião, se destacou na faixa por fazer uma média perfeita entre o estilo da Cynthia Luz e o da Ebony, aparecendo depois de ambas na música.
 
Pra fechar essa pérola de 2019, a rainha Kmila CDD entra bandidona, com classe e calma no beat dando aquele papo que a família da CDD é mestrona em dar: Vivência de favela e marra de quem tá no trono do Rap RJ há 20 anos sempre com plena consciência do mundo real – ela pode tudo nessa cena!

O vídeo foi produzido por Gabriel Solano, homem gol da Pineapple, mais uma produção simples e direta, mas com um toque bem sofisticado na fotografia, locação e nos figurinos. Quem ficou pela produção do beat foi o talentosíssimo Malive, que não deixou barato nessa faixa e a mix/master ficou por Rodrigo Pelot da VVAR que também deixou a produção nivelada por cima.
 
Não desmerecendo nenhum dos profissionais envolvidos, mas torço por um dia chegarmos ao ponto de podermos ver um Poetisas no Topo produzido inteiramente por mulheres, não apenas nas rimas, mas nas câmeras, nos beats, na mixagem e, inclusive, nas redações de divulgação dos veículos de mídia alternativa.

Obrigado aos que acompanharam mais uma matéria do Polifonia, nos vemos em 2020 com muita cobertura da cultura periférica nacional!!

Gustavo Silveira, a.k.a. Caliban, Mosca Produções, Polifonia Periférica.

Sharing is caring!

Deixe um comentário