Coruja BC1 apresenta álbum “Psicodelic”

O terceiro disco do rapper trata da saúde mental de um jovem negro de periferia

“Lágrimas de Odé” abre o disco pedindo para o Gustavo respirar antes de começar a contar passagens reais que marcaram sua vida, munido de um beat pesado e certeiro.

“Eu lembro como hoje eu, minha mãe, minha irmã no chão.
Medo, suspiro.
Eu com seis anos vendo meu pai tomar seis tiros.
Sangue no chão do barraco, no meio do gueto.
Ainda criança vi o que o sistema reservou pros preto”.

A mesma faixa muda de clima e entra numa narrativa de união, onde o rapper enfatiza que a favela precisa estar unida. Em tempos de genocídio da população negra e periférica, Coruja BC1 pede para que seus irmãos de cor não deixem a guerra entrar em seus terreiros, pois eles morrerão primeiro.

“Psicodelic” tem a saúde mental como pano de fundo para as narrativas de um jovem periférico. Memórias, traumas, críticas, anseios e (até) amor permeiam a mente de Coruja BC1, que transforma essas sensações em afiados textos. Não é à toa que ele se comunica com maestria com os jovens brasileiros.

Ouça aqui: https://ONErpm.lnk.to/Psicodelic.

Antes do disco, os três clipes/singles lançados já somam mais de 1 milhão de visualizações no Youtube . Tudo orgânico, vale frisar.

Apócrifo”, como o nome já diz, é uma crítica aos falsos. A ilegitimidade das pessoas é alvo de Coruja e cada frase é um tapa na cara da sociedade.

Fogo” reflete a reação de raiva e rebeldia de um jovem negro periférico que sonha com um futuro próspero, com bens materiais, enquanto as pessoas torcem para os planos darem errado.

“Por mais que tentem nos apagar, damos um jeito de acender de novo. Somos a era do fogo, botamos fogo pra mostrar que eles não podem apagar a chama de nossa história, de nossa ancestralidade, e de nossa fé”, define o rapper.

O rapper mineiro Djonga abre a vasta lista de participações especiais do disco na faixa Gu$tavo$. Um beat soturno que remete a clássicos do NAS ou Dr. Dree serve de base para o dueto dos MCs, que hoje são os maiores destaques do rap nacional.

A faixa 5 é um interlúdio, que simula Coruja BC1 conversando com uma psicóloga. A história que ele conta, sobre desigualdade social, é real. E a terapeuta diz que ele fala pouco sobre o amor.

Na sequência, entram as faixas mais sentimentais, com batidas mais lentas, instrumentos orgânicos como violão, saxofone e piano. Aqui a estética do trap fala alto. “Meu Anjo”, “Dopamina”, o hit “Éramos Tipo Funk”, cujo clipe conta com a participação do rapper Zudizilla. Ele aparece na faixa seguinte “Um Acorde (feat. Zudizilla)”, encerrando a sessão love songs.

Em “Digital Influencer”, Coruja BC1 discorre sobre vaidade, assuntos rasos e mente eufórica munido de uma linguagem digital. O samba “Camisa 12” tem a bela voz de Késia Estácio numa narrativa sobre vitórias e derrotas dentro e fora do campo.

O rapper Diomedes Chinaski aparece em “Ogum”, um trap que poderia ser interpretado como uma versão atualíssima do clássico “Jorge da Capadócia” gravado pelos Racionais MC’s em 1997. Na faixa seguinte, “Kimpa Vita” Coruja BC1 convoca seus manos Akill Mabili, Boy Killa e Obigo para darem a letra, num polêmico trap que reflete as opiniões da novíssima geração de rimadores.

Psicodelic encerra em grandioso estilo. “Skr” traz um beat bem grave de rap old school, que lembra uma mistura de Wu Tang Clan com Rakim. Por cima desse peso em forma de base, Coruja BC1 manda um alerta aos seus irmãos: “não se iluda, o jogo é sujo e vocês são usados sem perceber”, finaliza.

O álbum já está disponível em todas as plataformas digitais via ONErpm.

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