Documentário Armanda conta a história da ”Montessori brasileira”

Lançamento acontece dia 31 de maio no encerramento da 3ª edição do Festival Mate Com Angu de Cinema Popular
 

O ano é 1921, a personagem: uma mulher educadora muito a frente de seu tempo, Armanda Álvaro Alberto, filha do médico-sanitarista Álvaro Alberto e membro da elite carioca intelectual da época que escolheu a periferia para viver. A história da ”Montessori brasileira”, como foi carinhosamente reconhecida, e fundadora da União Feminina do Brasil uniu a produtora Dunas Filmes e a professora Liliane Leroux, que coordena o Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas (NuVISU) da UERJ, em alguns encontros que geraram o documentário. O lançamento acontece durante a 3ª edição do Festival Mate Com Angu de Cinema Popular, no dia 31 de maio, às 20h. O evento é aberto ao público, na Lira de Ouro, que fica na Rua José Veríssimo n° 72, no Centro de Caxias/RJ.

 
”Armanda” traz à tona um pouco mais sobre uma das precursoras do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, proposta de renovar a escola tradicional e a aplicação da verdadeira função social da escola. O documento é a favor dos direitos dos cidadãos brasileiros levantando pontos essenciais como educação pública, escola única, a laicidade, gratuidade e obrigatoriedade da educação. Criou em Duque de Caxias a Escola Proletária de Meriti que, posteriormente, se transformou na Escola Regional de Meriti, para atender uma comunidade rural carente e constantemente às margens de qualquer política pública de educação ou saúde. Influenciada pelas ideias de Maria Montessori, onde a criança é o centro do método e o professor tem o papel de acompanhador do processo de aprendizado – guia, aconselha, mas não dita e nem impõe o que vai ser aprendido pela criança – faz história não apenas criando o primeiro colégio a servir refeição para os alunos no Brasil, mas também, transformando o ambiente escolar em um laboratório educacional. Os estudantes passaram a ficar na escola em horário integral, a participar do cultivo de hortas e até mesmo da criação de pequenos animais. Presa política no governo de Vargas, dividiu ainda a famosa ‘cela 4’ com Nise da Silveira e Olga Benário cuja filha, Anita Leocádia Prestes, marca presença no filme falando um pouco sobre a relação de Armanda com sua mãe e as demais companheiras na prisão. Ana Chrystina Mignot e outros importantes pesquisadores da área também dão seus depoimentos no média-metragem.
 
Ao todo a produção contou com um ano de pesquisa e outros quatro para finalização, que teve início em 2013. As filmagens aconteceram de 2014 a 2015 e em 2016 a equipe se dedicou à edição. Para o diretor, Rodrigo Dutra, é importante não perder o elo de ligação da história dela com a que se mistura com a própria história da cidade. A personagem foi responsável pela escola que ficou conhecida como ”Mate com Angu”, termo anteriormente atribuído pejorativamente aos próprios alunos retratando todo o preconceito e hostilidade com as camadas mais populares da sociedade já naquela época. ”Hoje a escola é considerada um dos símbolos mais importantes de resistência e memória cultural da cidade, prova viva disso é que o velho apelido da escola batiza um dos mais conhecidos grupos culturais da Baixada Fluminense, o Cineclube Mate com Angu, que reúne cineastas e produtores culturais da região passando a ressignificar o termo antes hostil para, agora, sinal de orgulho do próprio lugar”, conclui o cineasta, que dirigiu o filme com Liliane Leroux e Flávio Machado. Atualmente o colégio se chama Escola Municipal Doutor Álvaro Alberto, em homenagem ao pai da educadora.
 
O Mate Com Angu de Cinema Popular contará com projeções de filmes em praça pública e em espaços culturais, debates, exposições, mostra competitiva de curtas, mostra panorâmica de longas, entrega do Trofeu Angu de Ouro aos homenageados e o concurso de vídeos Baixada 1 Minuto, em que moradores da região concorrem a prêmios em dinheiro. O Festival teve sua primeira edição em 2014 e dentre outras coisas contou com a presença do cineasta Nelson Pereira dos Santos. Já na segunda edição, um dos destaques foi a exibição do badalado filme Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, única vez exibido na Baixada. A programação também contará com as exibições dos longas-metragens Deixa na Régua, de Emílio Domingos, Ralé, de Helena Ignez, e No Olho da Rua, de Paulo Penteado, entre outros de 25 a 31 de maio. 
 
A luta pela preservação do patrimônio e memória da cidade
Desde 2012 há um embate a respeito da construção do shopping Central Park, no centro de Duque de Caxias, bem ao lado da escola. Por um lado empresários e setores interessados na viabilização do empreendimento alegam que não há riscos para a estrutura do colégio ou mesmo impedimentos legais e, do outro, instituições e grande parte da sociedade civil que, além de não concordarem com a obra, confirmaram rachaduras nos muros e na quadra da Escola Municipal Álvaro Alberto após o corte de mais de 160 árvores centenárias no entorno do terreno – com risco de demolição. O Ministério Público estadual propôs uma ação civil pública à Justiça e, temporariamente, estão suspensas as obras do empreendimento desde a última gestão da Prefeitura. No entanto, com a nova administração municipal, a ideia da retomada do polêmico projeto está sendo novamente levada em consideração. 
 
PARA ASSISTIR AO TRALER CLIQUE AQUI
 
 Ficha Técnica:
 
Direção
Liliane Leroux
Rodrigo Dutra
 
Direção de Fotografia
Flávio Machado
 
Roteiro
Flávio Machado
Liliane Leroux
Rodrigo Dutra
 
Câmeras
Flávio Machado
Rodrigo Dutra
 
Som Direto
Lúcia Marapodi
 
Trilha Sonora
Mauricio Galo
 
Realização
Nuvisu (Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas)/UERJ-FEBF
 
Produção
Dunas Filmes
 
Patrocínio
Faperj
 
Apoio
UERJ-FEBF
 

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