Viva a revolução chegou

Por Denise Bergamo da Rosa

Foto – Francisco Valdean

Vintém, Sabinada, cabanagem, vacina, chibata, Canudos, Farrapos, Palmares…

Suas motivações são as nossas motivações. Insurreições sobre o intolerável, a legitimidade da indignação, a revolta dos legítimos, da catraca.

E que a história desenha o caos, a barbárie em seus ciclos, como disse um revolucionário carioca, fica mais claro, o insustentável como subsidio para o levante do adormecido. O gigante está acordando…

Diante tantas e tantas demonstrações de “cagagadas” para a opinião pública, o limite do tolerável contra a impunidade e as representações no mínimo engraçadas para não dizer filhas da puta, não são apenas um estopim, mas a soma de um apanhado de descaso, de descrédito de desentendimentos políticos e DEMOcráticos advindos de uma reDEMOcratização que parece que se esqueceu de seu significado ou esqueceram disso ao se falar dela no plano de governo pós-ditadura.

Um evento bilionário e um bilhão de famintos, trezentos mil lugares novos no estádio e cinquenta mil na fila do INSS, copa pra quem? Patrimônio público indo para as privadas. O estado arreganhando as pernas para a facilitação de entrada de mão de obra “especializada” estrangeira. Haiti? Um caralho? O mundo dos empresários tem outra cor nego. Joga no Acre e tá resolvido. E os Boliva manda trancar no porãozinho da João Paulino.

E assim as superfaturações correm soltas em licitações, o Cabral e o Eduardo junto com o Alckimin e o Aécio já mandaram avisar que vai rolar a festa. Fodam-se vocês. E se protestar, polícia neles. Quem é que falava que serviço social era caso de polícia? Então.

32 favelas incendiadas, desapropriação Santa Marta, Pavão Pavãozinho, Pinheirinho, “Parem Belo Monte!”, Quilombo dos Macacos, Acampamento Milton Santos. Genocídios: Guaranis Kawioas e população pobre preta e periférica, as Mães de Maio…

E então eles nem perceberam que a novela não estava mais fazendo efeito, as conspirações começaram nos bares e nas redes sociais. Toda articulação fruto de políticas públicas para a educação, que não são apenas responsáveis por um só nome, mas ele sem dúvida ajudou muito para que elas se efetivassem. Ainda fazendo referência a esse carioca amigo meu, botaram favelado pra estudar. Aí já era!

De 2003 pra cá são dez anos, quase uma geração. Agora não dá mais pra voltar. Nem o Big Brother ajuda nessas horas, tudo nos leva a crer no sexo explícito, já tem o quadradinho de oito! Mas talvez a mídia guarde isso como uma carta na manga. O fato é que o governo vai descer o cassete em cima do povo para conter o que eles mesmos começaram. E se tudo não der certo, é bom mandar o Messias do Pastor descer logo.

Greves sufocadas e abafadas pela mídia, distorção de fatos e fotos. Mas agora tem a tal da internet, então agora é preciso aparentar a imparcialidade.

Tempos passados, mas próximos, no sul do país, Florianópolis e Porto Alegre, vários estudantes foram às ruas contra o aumento da passagem, depois, mais recentemente, Goiânia com êxito e Campinas também. Ano após ano, ou bienalmente é o aumento da porra da passagem, é a inflação, são os repasses para as empresas privadas, é a tal da desculpa para sempre tirar uns “trocados”, é o lucro, é a crise!

“Pula catraca” e “Passe livre”. Começou nas quebradas e foi para as universidades, pois é, pobre anda de ônibus para ir estudar, e estudar dá nessas coisas. Essa gente agora quer fazer revolução. E muito antes disso os jovens, como disse o camarada da “Esquerda Marxista”, já vinham acompanhando atentamente a primavera árabe e a quebra da Europa começando pela mãe da DEMOcracia. Meu Deus quanta ironia!

Agora se estiver portando vinagre vai ouvir: “Teje preso sujeito!”. As ruas se encheram, as capitais de Rio e São Paulo dão a continuidade as suas lutas e também, por que não do centro e sul do país. Uma harmonia revolucionária se instala e sua integração só aumenta. E sempre que se posta o evento nas redes, em dois minutos se vê “cinco mil estarão presentes”.

Qualquer político o minimamente esperto vai usar da fala: “Nosso país exerce o direito às manifestações, conforme nosso estado DEMOcrático de direito”. E vai estar ao lado da manifestação assim que ver as proporções que ela vai chegar, engolindo tudo e todos. E como é conveniente seguir as massas, pensando-se nos mais para frentes da vida, apoiará e colocará lá então sua bandeirola.

No mais Viva! Viva a Revolução está chegando! Se daqui a alguns anos ela terá nome e número, partido e coligação, se ela será de direita ou de esquerda só o senhor tempo bom nos dirá, não foi assim com os “caras pintadas” de 92? Não são eles hoje a classe de quem se protesta? Pois bem, aproveitemos a bonança das mobilizações das massas, pois a inércia estava já nos matando e literalmente.

Denise Bergamo da Rosa é habilitada em literatura portuguesa, trabalha na Secretaria de Educação de São Paulo, faz o curso de Serviço Social na Universidade Federal de Ouro Preto  e é colaboradora do Polifonia Periférica

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