Os movimentos são da base: Passe livre integraliza seu movimento junto às reivindicações do poder popular

Por Denise Bergamo da Rosa
Foto: Ninja

“Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não mexe como formigueiro”.
Capão Redondo 25/06/2013

Há muitos dedos quando se fala em Capão Redondo, Campo Limpo, Guaianazes, Ângela…
Nem todos os movimentos entram, a mídia tem um interesse “especial” por essas demandas sociais. Percebe-se que há, muito ao contrário do que se fala, dentro destes bairros/distritos, uma organização impressionante e de caráter político fortíssimo. São bem assessorados, e que ninguém aqui é bobo não, muitos advogados fazem carreira assistindo os movimentos de periferia, seja lá via defensoria pública ou o tal do humanitarismo.

Nota-se também que os movimentos estudantis de ensino superior público, ora veja que engraçado, estão sempre procurando estar junto a esses movimentos, somando as forças de reivindicações ou por estudo de campo, não entrarei nesse mérito, por que o seu histórico já fala por si só.

Quem vive/mora nas periferias sabe que o lugar todo é campo fértil para atuações políticas e que é de tal maneira estratégico se mexer com a periferia para determinados assuntos que antes mesmo da marcha de hoje (25/06/2013) a presidenta Dilma Roussef e o governador de São Paulo Geraldo Alckimin já haviam convocado reunião com os movimentos “Periferia Ativa” e “Movimento dos trabalhadores sem teto” (MTST), organizadores da manifestação do mesmo dia que passou pelos bairros de Campo Limpo e Capão Redondo.

Marcado em três pontos específicos: Metrô Capão Redondo, Largo do Campo Limpo e Estação do metrô Guaianazes com concentração às sete horas da manhã, se viu no ato a massa pesada da imprensa por lá. Cercando com seus carros a estação Capão Redondo do metrô todas as mídias possíveis e inimagináveis, eu que não darei “IBOPE” para nenhuma delas. Mas havia, sem dúvidas, muito mais mídia que movimento (exageros à parte), tanto que quando a chuva apertou o caminhão de som lotou, mas não era dos companheiros de movimento não, eram os repórteres se guardando e guardando seus aparatos de trabalho, caindo jornalistas pelas bordas.

Não se ouviu em nenhum momento o grito “Sem violência”, assim como também ninguém cantou “Sou brasileiro com muito orgulho e muito amor” e ninguém foi de branco não. O vermelho e o preto eram cores determinantes nas bandeiras estendidas durante o percurso. Houve um revezamento de coordenadores puxando os gritos na manifestação e muitos destes coordenadores: mulheres.

Quando a marcha ganhou a estação João Dias, que tem como paralela a Avenida Giovanni Gronchi, acesso para o palácio do governo, houve uma parada para tomar as decisões do percurso, o curioso é que não se avançou até lá (palácio do governo). O movimento atravessou a ponte João Dias, por ali ficou alguns instantes esperando “orientações” e retornou, dando fim na estação João Dias.

Não se pode negar, a organização foi exemplar, demasiadamente organizada. Até demais…
Na introdução desse texto se falou sobre os dedos que cercam as periferias, citei o Capão Redondo por uma questão lógica, pois o movimento desta terça-feira foi neste bairro também. E foi possível senti-los na manifestação, uma certa pontualidade de quem fala ou o que se fala e para quem se fala. O que confirma a importância crucial dos movimentos de base para essa era revolucionária brasileira, as manifestações estão “saindo” dos centros e indo para as periferias, o que é um absurdo dizer, pois elas nunca saíram de lá, mas só ganharam foco tomando os grandes centros financeiros do país.

Com a notabilidade nacional tomada nas reivindicações deste mês de junho, as manifestações precisam retornar as bases e por lá se estenderem e ganharem público, assim como foi nos centros das diversas capitais do país. Se cada capital fizer esse movimento de dentro para fora e levar a grande massa popular a conscientização política que estamos começando a ganhar, isso será de uma maestria e destreza tamanha que como profetizou um fanático líder comunitário do Capão Redondo, uma guerra civil se aproximará em questão de tempo.

E não careceu disso no dia de hoje, pois o governo começou a entender que não são apenas estudantes que estão a protestar, são eles também, mas muito mais que eles, o dito gigante está por lá e se for dada a ele essa conscientização que ele é e tem o poder…

Veja a pauta da manifestação e os temas discutidos na reunião paralela com o governador Geraldo Alckimin:
– Não à violência policial. Desmilitarização da Polícia!
– Saúde e Educação “Padrão FIFA”. Nada de dinheiro para a Copa!
– Controle sobre o valor dos aluguéis. Contra as remoções!
– Tarifa Zero para o transporte público!
– Redução da jornada de trabalho para 40 hs semanais, sem redução de salário!

Evento convocado pela rede social: https://www.facebook.com/events/377628569026304/

Reunião com o governador: O aumento da bolsa aluguel pra R$400,00, regularização dos moradores do Novo Pinheirinho, implementação de ônibus intermunicipais 24h nas cidades de Embú das Artes e Taboão da Serra e o aumento do tempo de funcionamento do Metro e CPTM.

Denise Bergamo da Rosa é habilitada em literatura portuguesa, trabalha na Secretaria de Educação de São Paulo, faz o curso de Serviço Social na Universidade Federal de Ouro Preto e é colaboradora do Polifonia Periférica

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